Há algumas versões
diferentes sobre a origem de Nadia Gamal. Alguns dizem que ela é libanesa, mas
morou no Egito. E outros dizem que ela é egípcia, mas logo mudou-se para o
Líbano.
Segundo pesquisas de Lívia Jacob,
do site Arabesc, Nádia Gamal nasceu no Egito, mais precisamente em Alexandria,
na década de 1930. Filha de mãe italiana e pai grego, seu nome de batismo era
Maria Carydias. Ela cresceu no meio artístico, pois sua mãe era bailarina e
atriz, e apresentava um número no Casino Opera no Cairo, que pertencia à
Badia Massabni. Quando pequena Nadia já se apresentava com a mãe, como atriz,
no Casino Chatby em Alexandria, quando era conhecida como Carry Days. E
mais tarde como dançarina, fazendo números de danças europeias no
Casino Opera. Além disso, como na época era proibido o trabalho de menores de
13 anos no Egito, suas participações em festas e casamentos eram consideradas
informais.
Foi no Casino Opera, de Badia
Massabni, que sua carreira como bailarina oriental realmente começou. Seu
estilo era único, pois era treinada em balé, dança moderna, piano, jazz e
sapateado.
Diz uma lenda que sua primeira
apresentação na dança oriental (seu pai a proibia de dançar em público por
conta da sua idade) foi aos 14 anos, quando uma das bailarinas do casino da
Badia ficou doente e não pôde se apresentar, sendo substituída por Nadia.
Mas Nadia também era muito
estudiosa, falava 7 línguas diferentes e gostava de pesquisar a origem da dança
do ventre. Sua grande missão era lutar contra a vulgarização dessa arte. Ela
costumava enfatizar "A Dança Oriental é uma arte, essa dança é a mais antiga
da nossa civilização. Eu viajo pelo mundo para mostrar que é uma dança
refinada, artística, tradicional e cheia de beleza."
Viveu no Líbano por muitos anos e
adotou o país dos cedros como sua pátria, a pátria que ela escolheu e que a
coroou como a "primeira dama da dança do ventre". Pode ser vista
como grande expoente do estilo libanês de Dança Oriental.
Fez sucesso principalmente nas
décadas de 50 e 60 e foi a responsável pelo surgimento da primeira escola de
Dança do Ventre em Beirute, Líbano.
Como bailarina ela se orgulhava
de ser a única a ser convidada a se apresentar no famoso festival libanês
Baalback, na década de 1960, onde, apesar do preconceito contra a dança do
ventre, ela foi aclamada por 4 mil espectadores e sua apresentação é
considerada memorável até hoje. Seu reconhecimento como bailarina excepcional
também veio quando ela se tornou a bailarina do palácio do Shah do Irã e também
do Rei da Jordânia.
Ela participou de inúmeros filmes
e shows, tanto como bailarina quanto como atriz, mas não existe um catálogo
oficial deles, apesar de ser possível achar muitos no Youtube. Uma das coisas
interessantes desses vídeos é que eles englobam quase toda a carreira da Nadia,
então é possível observarmos a sua evolução como bailarina, desde novinha até quase
a sua morte em 1990.
Em 1965, Nadia já começou a fazer
sucesso fora do mundo árabe (ela viajaria o mundo inteiro como uma espécie de
embaixadora da dança oriental). Se apresentou em inúmeros países, incluindo
diversos lugares da Europa, Estados Unidos e Canadá. Ainda nesse ano, Nadia
participou de produções libanesas, como o filme "Al Seba wa Al
Jamal", no qual sua dança aparece numa cena bastante familiar.
Era uma bailarina muito
expressiva, de grande dramaticidade e incrível interpretação musical, chegando
a ser chamada de Isadora Duncan da dança oriental. Diferente de outras
bailarinas de sua época, chegou a apresentar coreografias modernas, de outros
estilos de dança, com leves toques orientais.
Também era comum a Nadia utilizar
elementos em cena para a construção de sua dança, além de interagir e brincar
com outros atores. Uma marca dessa bailarina era o seu poderoso trabalho de
quadril, com movimentos amplos, além de um trabalho de mão diferente do que
normalmente é visto. Teve uma longa parceria com o derbakista
Setrak. Dançou e ministrou aulas nos Estados Unidos, Canadá e Europa.
Randall Grass escreveu sobre
Nadia: “(...)uma grande bailarina é uma musicista cujo instrumento é o seu
próprio corpo. Nadia Gamal realmente era um "great spirit" (grande espírito), tanto quanto um grande
músico, uma artista que inspirava admiração naqueles que a assistiam. Contudo,
ela é pouco conhecida fora do Oriente Médio e dos círculos de Dança
Oriental, uma injustiça que eu senti que precisava ser corrigida."
Nadia foi casada 3 vezes, mas
nunca teve filhos. Veio a falecer em 1990 de câncer de mama com muito
sofrimento.